Luis Felipe Cortoni
Apesar de tudo o que já foi dito e especulado, ainda é tempo de aprender com a desclassificação da seleção brasileira de futebol da Copa de 2010. Foi uma tendência, dos últimos tempos, trazer para as empresas experiências vindas de fora, em particular do esporte, como analogias de liderança de equipes e/ou de organização do trabalho. Os exemplos são muitos e conhecidos: técnicos de futebol, de vôlei, ex atletas, e até equipes inteiras foram chamadas com este propósito. A idéia central em todas estas tentativas era de ensinar gestores e outros profissionais a ciência, a arte e a técnica de formar e gerenciar equipes vencedoras e atletas de alta performance. No caso da seleção de futebol 2010 tivemos um anti exemplo disto. Parece que, neste caso, se o Dunga (o grande líder) tivesse feito um estágio em uma empresa emprestando exemplo de gestores e líderes organizacionais, não só inverteria esta tendência, como também aumentaria seu repertório de competências no tema. Mas afinal o que o Dunga poderia aprender com estes gestores/líderes? Em primeiro lugar, gestores/líderes sabem que a complexidade de um verdadeiro trabalho em equipe merece uma multivisão da questão e desta forma, só a combinação de talentos individuais com a força do coletivo faz uma equipe produzir resultados excelentes. Dunga, ao contrário, insistiu em uma única variável - o comprometimento e a fidelidade ao propósito (e a ele)- pensando produzir resultados e demonstrando claramente parte das suas antiquadas e limitadas crenças gerenciais. Criou o que todos conhecemos bem o espírito de corpo que blinda, e fecha a equipe numa espécie de auto adoração mas que, dificilmente produz resultados. Estes só são sentidos e percebidos dentro da equipe, mas não como produção concreta e sim como sensação de comprometimento e união. A equipe se auto adula e acredita que é imbatível. Em função destas características seria melhor chamar a seleção de confraria , pois foi o que Dunga conseguiu formar, com um leve toque de patriotismo e religião. Nada contra as confrarias, mas não para a seleção brasileira de futebol. Por outro lado, a fórmula é conhecida: juntar os melhores talentos individuais, dar espaço para que se manifestem, e fazê-los (ao mesmo tempo) trabalhar para o coletivo, a despeito dos egos que se juntou para se conseguir isso. Quando se olha a história da selação nas Copas, fica claro também que outros técnicos tentaram o caminho inverso, e da mesma forma não se deram bem, ou seja, convocar somente os talentos individuais apostando que eles sozinhos dariam conta do recado. Apesar da fórmula conhecida, a operação na prática não é nada fácil. Por isso exige no seu comando um gestor/líder que tenha estrutura suficiente para conseguir o verdadeiro milagre, talentos individuais trabalhando pelo resultado coletivo. Mais ainda, esta missão exige um gestor/líder que reconheça seus vieses e preferências pessoais e trabalhe com a equipe, para a equipe e pelo melhor resultado, e não para comprovar teses, ou visões de mundo. É claro que nem todos os gestores das empresas são ótimos coachs de equipes, mas pelo menos treinam e estudam isso com muita freqüência. Se tivesse feito um estágio de gestor em uma empresa, o técnico da seleção brasileira de futebol no mínimo aprenderia o que significa, entre outras competências: - vencer 365 partidas por ano e não apenas um campeonato - ter um grupo aberto para as naturais influências do meio e ainda assim jogar pelo propósito coletivo - selecionar e preparar trainees para as futuras competições (casos de Neymar e Ganso) - fazer coach, e não domesticação, para trazer de volta aqueles que se dispersaram ou se dispersam pelo caminho (caso Ronaldinho Gaucho). Será que alguma empresa não estaria disposta a ensinar o próximo indicado ao desejado posto, fornecendo um estágio junto a alguns de seus gestores? Quem sabe esta não poderia ser uma das cadeiras/matérias na formação de técnicos de futebol, pois quem será que explica e discute liderança com eles? Temos até 2014 para treiná-lo.
*Luis Felipe Cortoni, professor da Fundação Vanzolini (USP) e sócio-diretor da LCZ Desenvolvimento de Pessoas e Organizações
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segunda-feira, 12 de julho de 2010
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